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Dora Bognandi: Diálogo com uma adventista dedicada à liberdade religiosa na Itália

 

A ilha de Sicília possui a maior concentração de adventistas na Itália e é a terra natal de Dora Bognandi, pertencente à quarta geração de adventistas do sétimo dia. Ela nasceu em 1949 em Piazza Armerina, Sicília. Determinada, mas humilde, Dora é conhecida no país por sua coragem e convicção. Ela incorpora o que a liberdade religiosa é e deveria ser. Trabalha atualmente para a “Fondazione Adventum” (Fundação Adventista), um departamento social da igreja.

Dora foi batizada em 1966 e trabalha para a Igreja Adventista desde 1985. Em 1992 tornou-se assistente de Ignazio Barbuscia, então diretor do Departamento de Liberdade Religiosa. Em 1999 foi eleita diretora dos Departamentos de Liberdade Religiosa e Comunicação da União Italiana dos Adventistas do Sétimo Dia. É casada com o Pastor Adelio Pellegrini e tem dois filhos, ambos trabalhando para a igreja.

O que a motivou a ser adventista do sétimo dia?

Nunca havia experimentado o senso de conversão em outra religião ou denominação. A Igreja Adventista sempre foi minha família. Entretanto, durante minha juventude, passei por um período de indiferença em relação à fé cristã. Mas como geralmente acontece, temos de ser lançados por terra para podermos olhar para cima. Fui golpeada duramente quando perdi minha filha. Esse foi um momento muito difícil em minha vida. Aqueles dias trágicos me fizeram compreender o quanto eu necessitava de Deus e Seu amor. Também percebi quão importante é ter os amigos da Igreja ao redor. Sem o auxílio divino e de minha grande família, não me teria levantado.

O que a fez aceitar a posição de diretora de Liberdade Religiosa e Comunicação da União Italiana? Qual é sua função nessas áreas?

Meu trabalho consiste em representar a Igreja Adventista do Sétimo Dia perante a sociedade italiana. Apesar de minhas limitações, sinto-me um pouco embaixadora da Igreja para a comunidade em geral. Também quero que minha Igreja conheça o melhor da cultura italiana e de suas tradições religiosas, a fim de podermos, como adventistas, comunicar adequadamente nossa fé bíblica e missão singular. O Departamento de Liberdade Religiosa coloca-me em contato com instituições religiosas, políticas e culturais da Itália. Minha responsabilidade é assegurar que os membros da Igreja tenham seus direitos e privilégios — de crença, culto, consciência e testemunho — protegidos e respeitados. Trabalho também ajudando os membros a respeitar os direitos e crenças de outras pessoas. Como diretora de Comunicação da Igreja, sou responsável pela edição mensal da revista Il Messaggero Avventista (equivalente à Revista Adventista), e pela coordenação de dois boletins eletrônicos: o (BIA), com notícias para os membros adventistas, e o AND, escrito para leitores não-adventistas. Devo ainda empenhar-me em preservar a boa reputação de nossa denominação, disseminando notícias sobre a Igreja Adventista.

Por que a liberdade religiosa é importante para a senhora?

Porque é o fundamento de todas as liberdades. A liberdade religiosa é o direito de crer ou não em Deus, de acordo com os ditames de nossa consciência e sem interferência externa. Acredito que esse é um direito humano fundamental. A Constituição Italiana garante essa liberdade, bem como assegura o direito de mudarmos de religião e dar testemunho dela. O comprometimento com a liberdade religiosa ajuda-me a permanecer independente de qualquer organização política e social, e a falar de um Deus a quem estão sujeitas todas as ordens sociais e em quem podemos encontrar o significado e o propósito da vida. A liberdade religiosa ajuda-me a falar de um Deus justo, ou acerca de um ideal que possuo. Ela me auxilia a respeitar pessoas que pensam diferentemente de mim e a trabalhar com elas para benefício da humanidade.

Como mulher, que percepções a senhora acrescenta às suas responsabilidades?

Talvez interesse e cuidado especial por outras pessoas, uma característica encontrada mais facilmente em mulheres do que em homens. Creio também que o caráter afetivo, tão comum na mulher, é útil para o trabalho que realizo.

A Itália é predominantemente católica. Qual é a posição da Igreja Adventista do Sétimo Dia em seu país, em termos de direitos governamentais, reconhecimento e liberdade?

A Igreja Adventista italiana teve pastores que fizeram um excelente trabalho no Departamento de Liberdade Religiosa, como Gianfranco Rossi e Ignazio Barbuscia. Graças a eles, nossa Igreja firmou um acordo especial com o Estado italiano, que se tornou lei em 1988. Pela primeira vez na história mundial, num país onde o catolicismo romano tem sua Santa Sé, foi promulgada uma lei para que os adventistas pudessem observar o sábado no trabalho, na escola, na universidade, e assim por diante. Devemos esse resultado extraordinário principalmente à observância do sábado por tantos membros fiéis de nossa Igreja. O acordo especial de 1988 inclui também os seguintes pontos: reconhecimento oficial de ministros adventistas; aceitação de nossa posição de não portar armas, e sua substituição pelo serviço comunitário; serviços de capelania dos pastores adventistas em hospitais e prisões; e a aprovação legal de casamentos oficializados por ministros adventistas.

Diga-nos alguma coisa sobre a condição atual da Igreja Adventista na Itália. Quais são os principais desafios e tendências?

Assim como acontece em outros países ocidentais, nossa Igreja na Itália é afetada pelo secularismo e o relativismo moral. Mas enfrentamos também um desafio ainda maior: introversão — isto é, uma tendência em focalizar apenas nossos próprios problemas e necessidades, em vez de nos volvermos para o atendimento das necessidades das pessoas ao nosso redor. O mundo está mudando a uma velocidade impressionante, e o fundamentalismo religioso militante está crescendo. Temos de levar ao mundo o que definimos por “Verdade Presente”, ou seja, a verdade destinada a suprir as necessidades específicas de nosso tempo.

Qual é a imagem pública de nossa Igreja em seu país? Como somos conhecidos?

Na Itália somos a minoria entre as minorias. Temos apenas sete mil membros batizados em relação a uma população de quase 58 milhões de pessoas. Não é tarefa fácil tornar-nos conhecidos devido à presença maciça da igreja católica e dos limitados recursos humanos e financeiros que temos. No entanto, a lei nos permite acesso a fundos públicos chamados Otto per Mille (Oito por Mil), recebidos de recursos provenientes de impostos estaduais. Isso propicia a oportunidade de fazer muitas beneficências e nos dá maior visibilidade, pois o nome da Igreja Adventista está incluído em mais de 30 milhões de formulários de restituição de impostos. Como conseqüência, recebemos fundos que usamos para propósitos sociais, humanitários, beneficentes e culturais. Temos nove estações de rádio na Itália, usamos sites na Internet e, obviamente, trabalhamos com a ADRA e outras iniciativas públicas.

O que lhe dá maior satisfação no trabalho?

Sinto uma grande satisfação quando posso solucionar o problema de nossos membros, relacionado à observância do sábado. Apesar da existência da lei, alguns empregadores ainda esperam que os adventistas trabalhem no sábado. Gosto muito de ver a alegria estampada na face de nossos irmãos, quando o problema é resolvido. Fico satisfeita também quando a mídia secular faz referências à nossa posição em questões religiosas ou violações de direitos humanos, ou quando os círculos religiosos não-adventistas elogiam uma doutrina adventista que antes criticavam duramente. Se nossa Igreja é apreciada e causa boa impressão, fico extremamente feliz.

Que doutrina adventista tem sido especialmente apreciada na Itália?

Não apenas uma doutrina, mas várias. A reforma de saúde, por exemplo. Já fomos muito criticados por nossa postura quanto ao tabaco, álcool e as drogas. Hoje somos cada vez mais apreciados por outros líderes religiosos e também imitados. Outros exemplos são o princípio do dízimo e nosso modo de observar o dia de descanso.

Como a senhora consegue manter um equilíbrio entre seus vários papéis de mãe, esposa e líder eclesiástica?

Essa é uma das minhas maiores preocupações. Não é fácil devotar-se completamente ao trabalho e então achar tempo para você e sua família. Você terá sucesso somente se desfrutar amor e cooperação de sua família. Agradeço a Deus porque minha família tem sido uma bênção nesse aspecto.

A senhora tem uma vida muito ocupada. Como consegue manter viva sua comunhão com Deus?

Acordo muitas vezes às 2 ou 3h da manhã e começo a ler minha Bíblia. Converso com Deus e digo-Lhe o que estou pensando naquele momento. Coloco sobre Ele todas as minhas preocupações. Então vou dormir. Deus me dá a força que necessito. Algumas vezes sinto um grande peso devido às minhas responsabilidades e ao meu senso de insuficiência para a grande tarefa que tenho. Mas, nesse momento, as palavras das Escrituras acodem à minha mente e me sinto confortada e motivada novamente.

O que a senhora diria aos nossos leitores que pensam dedicar seus talentos à obra da Igreja Adventista?

Trabalhar para a igreja é uma das coisas mais maravilhosas que podem acontecer na vida de alguém. Você parte para uma aventura cujos horizontes se ampliam mais e mais, conforme vai descobrindo novas direções ao longo do caminho.

Roberto Vacca é produtor de rádio para a rede de estações de rádios adventistas na Itália “La Voce della Speranza”. Seu e-mail é: r.vacca@libro.it.

A Sra. Dora Bognandi pode ser contatada pelo e-mail: d.bognandi@avventisti.it, ou através do Departamento de Liberdade Religiosa, c/o Unione Italiana Chiese Avventiste; Lungotevere Michelangelo 7; 00192 Roma; Itália.


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